Charlie Hebdo e as esquerdas

O atentado ao Charlie Hebdo teve pelo menos um lado útil: deixar claro para uma parcela grande de brasileiros que vive na França que não há paralelo possível entre a esquerda europeia e a sul-americana. Isso é algo que eu modestamente me dei conta logo que cheguei ao país, em 2009, e que faço questão de lembrar sempre que há eleições no Brasil – quando o delírio de que o PT representa qualquer coisa parecida com o PS acomete algumas cabeças até bem lúcidas entre meus amigos e colegas. A esquerda sul-americana relativiza o autoritarismo (Cuba, Venezuela, etc), relativiza corrupção (Mensalão, Petrobras, etc) e sempre relativizou o terrorismo. A reação ao episódio de agora na França é totalmente coerente com o discurso que ouvimos no 11 de Setembro ou que ouvimos o tempo todo na questão israelo-palestina. É uma moral torta que muda dependendo de quem é a vítima. Algo bem mais raro entre a esquerda europeia, para quem alguns pilares não são mais passíveis de discussão, entre eles a democracia. Lamento que este choque de realidade tenha se dado em um contexto tão trágico para alguns.